quinta-feira, junho 07, 2007

Na dúvida, dono de bar..

  • Sugiro que leia esse texto ouvindo a música "Down em mim", do Cazuza.
Pode encher esse copo, Julio. Enche e põe gelo, que hoje promete.
Ta tudo uma merda mesmo, se eu tomar todas hoje, pelo menos esqueço isso por alguns instantes.

O mais engraçado é que quando entramos na faculdade ninguém diz pra gente que vai ser assim né! E nós, jovens, acreditamos que será o momento de renovação do espírito, de brigas políticas, o mundo nos espera!! Passamos quatro anos acreditando em tudo isso pra nos formarmos, naquela festa linda onde todos nos dão parabéns pela vitória!
Porra! Só depois mesmo, formados e sem emprego que vemos a realidade!!

Vai Julio, enche aí, meu! To falando que hoje vou beber até cair.
Ai passa o tempo e você arruma aquele trampinho requenguela, ganhando uma miséria pra sustentar sua casa, sua vida, que quando você tinha 20 anos, por rebeldia resolveu sair de casa, só se esqueceu que a faculdade não é eterna e que seus pais não vão te sustentar pra sempre.

No trampo, dá sua alma, e descobre que realmente a secretária do chefe é a mais gostosa do setor, o problema é que ela é casada. Tudo bem, você não se importa, porque lembra da Ritinha, aquela gata da faculdade que te jurou amor eterno e com certeza, ta te esperando em casa.
Daí bate aquela puta incerteza, mas é mesmo a Ritinha? Lógico que é, você só se dá conta quando vê ela dormindo no sofá toda desajeitada, com a tv ligada.

Vai Julio, ta esperando o que? Pode trazer mais uma dose... dupla!
A partir do momento que você se vê com aquela merdinha de trampo, uma casa pra por comida e a Ritinha dormindo no sofá, pensa bem em que futuro vai ter ao lado dessa mulher que te jurou amor eterno naquele prédio azul da Universidade, às cinco pras duas de uma quarta-feira ensolarada.

É Julio, as coisas não são fáceis. Você gosta de ser dono de bar? Nunca pensou e ser jornalista, não? Pois é... eu nunca pensei em ser dono de bar, mas jornalista...
Sabe como é né Julio, família típica de classe média, aquela história de ter diploma, aquele papo de meu filho vai ser engenheiro e o seu? Ah o meu vai ser médico e o seu?

Porra, meu filho vai ser jornalista, um vagabundo nato! Nunca vi esse piá, passa o dia trancado, escrevendo, lendo, ouvindo música e tem aquele cheiro estranho no quarto dele que ele diz ser incenso, ta bom.. sei!

É Julio, quem dera eu ter sido dono de bar, meus pais não teriam gasto com minha faculdade.
Pô cara, não ta sobrando uma vaga aí, eu posso escrever o cardápio, dar uma repaginada no bar, coloco umas notinhas aí que ta de cara nova, isso aqui vai lotar, heim!
Ta vendo Julio? Nem assim, eu deixo de ter essa alma jornalística nojenta!
Vai Juião, só mais uma e eu prometo que vou embora!

Sabe Julião, agora vou pra casa... ver minha mulher, assistir o Jô e amanhã começa tudo de novo. Essa rotina de bosta que não me deixa sonhar! É isso, Julio... eu não posso sonhar, na minha profissão, tenho que dizer a realidade, nada de inventar, de sonhar! Tenho que ser factual! Que merda é essa? Factual? Cadê as viagens? Devaneios? Cadê tudo isso?
Porra Julio.. marca aí pra mim! Falou!