quarta-feira, abril 02, 2008

Palavras, minhas palavras...

  • Sugiro que leia esse texto ouvindo qualquer música a seu gosto. Hoje sumiram-me não somente as palavras, como também as indicações.

Meu texto morreu! Nada me inspira a escrever, talvez minha ansiedade esteja corroendo a parte do meu cérebro destinada às palavras. E justo hoje que eu queria tanto contar como foi meu dia.
A máquina que ficava na estante de ferro da sala, tal qual a própria estante, enferrujou e não há nada que se possa fazer para mudar isso. Até porque, nas limpezas quinzenais que minha mãe insiste em fazer aqui em casa, ela já encontrou um outro dono para as minhas ferrugens e passou minha querida máquina adiante.
Ainda hoje pela manhã, lembrava do primeiro texto que caprichosamente escrevi com ela. Era algo como a redação de volta às aulas, que a professora da segunda série pedira.
Com meus oito anos, ganhei a máquina e para imitar meu pai que era escriturário, escrevia nela longos textos de 3 linhas. Sim, eles eram de fato longos, afinal, com oito anos, tudo que ultrapassa a primeira frase pode ser considerado uma coleção literária numerosa.
E hoje, anos depois, me faltam palavras. Seria muito absurdo pensar em escrever sobre as férias da segunda série? Talvez se encontrasse o texto dos meus oito anos e me lembrasse como foram aquelas férias, tudo voltaria ao normal.
Mas, assim como as ferrugens, minha mãe deu um jeito também nas lembranças do primário. E isso, é algo que gostaria de entender. Por que será, que mães dão fim nas nossas coisas?
Já pensei em trocar a fechadura de casa é verdade, mas dessa forma, não encontraria a cada quinze dias os livros arrumados e as cuecas limpas. Mais que limpas, passadas, dobradas e como que por mágica, arrumadas uma a uma dentro da gaveta esquerda.
Mesmo com cuecas limpas e livros arrumados, o que facilita em 90% a vida masculina, eu não encontro palavras. A organização da minha mãe é tanta, que talvez no meio dessas arrumações ela possa ter guardado minhas idéias e esqueceu de me avisar aonde colocou.
Ou pior que isso, ela pode ter doado minhas idéias junto com as ferrugens, uma tremenda sacanagem, já que sou escritor. Pô mãe, daí já é demais, né?!
Outra coisa que facilita a vida do homem e que minha querida mãezinha me auxilia é a preparação do café. Aquele que me acompanha durante horas na incessante procura por idéias.
Falando nisso, amanhã é dia da visita da mamãe. É bom mesmo, porque a comida está acabando e pelo menos o bolinho ela traz e quem sabe no recheio do bolo de cenoura, não estão as idéias que sumiram daqui há mais ou menos 15 dias?